A fumaça produzida pela queima da pedra de crack chega ao sistema nervoso central em dez segundos, devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser grande e seu efeito dura de 3 a 10 minutos, com efeito de euforia mais forte do que o da cocaína, após o que produz muita depressão, o que leva o usuário a usar novamente para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. Não raro o usuário tem alucinações e paranóia (ilusões de perseguição).
Em relação ao seu preço, é uma droga mais barata que a cocaína.[2]
O uso de cocaína por via intravenosa foi quase extinto no Brasil, pois foi substituído pelo crack, que provoca efeito semelhante, sendo tão potente quanto a cocaína injetada. A forma de uso do crack também favoreceu sua disseminação, já que não necessita de seringa — basta um cachimbo, na maioria das vezes improvisado, como, por exemplo, uma lata de alumínio furada.
Índice[esconder] |
[editar] História
Árvore de Coca na Colombia
A cocaína tornou-se popular entre as classes altas no fim do século XIX. Entre consumidores famosos do vinho Mariani contavam-se Ulysses Grant, Sir Arthur Conan Doyle (criador do detective Sherlock Homes), Júlio Verne, Thomas Edison, o Rei William III e o Papa Leão XII, que até apareceu na publicidade do produto e Frédéric Bartholdi (francês, criador da Estátua da liberdade), que comentou que se o vinho tivesse sido inventado mais cedo teria feito a estátua mais alta (um sintoma de excesso de autoconfiança típico).
[editar] Popularização
Em 1878, nos EUA, W.H.Bentley realçou as propriedades da cocaína como um antídoto para o vício do ópio, da morfina e do álcool. Em Viena, 1884, Sigmund Freud, o médico criador da psicanálise experimentou-a em pacientes, fascinado pelos seus efeitos psicotrópicos. Publicou inclusivamente um livro Über Coca sobre as suas experiências. Ele utilizou-a contra a depressão e contra o vício da morfina. Foi ele que a forneceu ao oftalmologista Carl Köller, que em 1884 a usou pela primeira vez enquanto anestésico local, aplicando gotas com cocaína nos olhos de pacientes antes de serem operados. A popularidade da cocaína ganha terreno: Em 1885 a companhia americana Park Davis vendia livremente cocaína em cigarros, pó ou liquido injetável sob o lema de "substituir a comida; tornar os covardes corajosos, os silenciosos eloqüentes e os sofredores insensíveis à dor".[editar] Proibição
Apesar do entusiasmo, os efeitos negativos da cocaína acabaram por ser descobertos. Entre 1885 e 1890, a literatura médica apresentou mais de 400 relatos de perturbações físicas e psíquicas devido ao consumo de cocaína. Já que muitos deles se referiam à pessoas que tinham administrado esta substância como antídoto para o vício da morfina, as duas drogas, apesar de possuírem efeitos muito diferentes, começaram a ser confundidas e regulamentadas, a nível internacional, do mesmo modo. Em 1903, a cocaína foi removida da Coca-Cola. Na Europa, a cocaína foi proibida após a Primeira Guerra Mundial, mas continuou a ser usada como medicamento até ter sido substituída pelas anfetaminas no final dos anos 30. Até ao início dos anos 70, o consumo manteve-se bastante baixo, altura a partir da qual a cocaína começou a ser associada à imagem de êxito social. Tal fato aumentou o consumo, que se propagou às diferentes classes sociais e teve bastante aceitação entre os consumidores de outras drogas.Em Portugal, a cocaína apareceu no mercado negro nos anos 80. No início era uma droga de elite, mas rapidamente o seu uso se generalizou, tornando-se um problema de saúde pública.
A história do crack está diretamente relacionada com a da cocaína, droga que surgiu nos anos 60 e que, na época, era grandemente consumida por grupos de amigos, em um contexto recreativo. No entanto, a cocaína era uma droga cara, apelidada de “a droga dos ricos”. Esse foi o principal motivo para a criação de uma “cocaína” mais acessível.
De fato, a partir da década de 70 começaram a misturar a cocaína com outros produtos e conforme outros métodos. Foi assim que surgiu o crack, obtido por meio do aquecimento de uma mistura de cocaína, água e bicarbonato de sódio. Na década de 80, o crack se tornou grandemente popular, principalmente entre as camadas mais pobres dos Estados Unidos.
[editar] Efeitos psicológicos
O crack é uma substância que afeta a química do cérebro do usuário: causando euforia, alegria, suprema confiança, perda de apetite, insônia, aumento da energia, um desejo por mais crack, e paranóia potencial (que termina após o uso). O seu efeito inicial é liberar uma grande quantidade de dopamina, uma química natural do cérebro que causa sentimentos de euforia e de prazer. O efeito geralmente dura de 5-10 minutos, após o qual os níveis de tempo de dopamina no cérebro despencam, deixando o usuário se sentindo deprimido. Quando o crack é dissolvido e injetado, a absorção pela corrente sanguínea é tão rápido como a absorção que ocorre quando o crack é fumado, e sentimentos de euforia pode ser experimentado. Uma resposta típica entre os usuários é ter outro hit da droga, no entanto, os níveis de dopamina no cérebro levam muito tempo para se restabelecer, e cada dose recebido em rápida sucessão leva a efeitos cada vez menos intenso. No entanto, uma pessoa pode ficar 3 ou mais dias sem dormir, enquanto sob o efeito do crack. Uso do crack em uma festa, durante o qual a droga é tomada repetidamente e em doses cada vez mais elevadas, leva a um estado de irritabilidade crescente, agitação e paranóia. Isso pode resultar em uma psicose paranóica, em que o indivíduo perde o contato com a realidade e passa a ter alucinações. Abuso de estimulantes de drogas (principalmente anfetaminas e cocaína) podem levar a parasitose delirante (Síndrome aka Ekbom: a crença equivocada de que são infestados de parasitas). Por exemplo, o uso de cocaína em excesso pode levar à formigamento , apelidado de "bugs cocaína" ou " erros de coque ", onde as pessoas afetadas acreditam ter, ou sentir, parasitas rastejando sob a pele. Essas ilusões também estão associados com febre alta ou abstinência do álcool, muitas vezes juntamente com alucinações visuais sobre insetos. Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar danos cutâneos graves e sangramento, especialmente quando eles estão delirando.[3][editar] Efeitos fisiológicos
Os efeitos fisiológicos em curto prazo do crack incluem: constrição dos vasos sanguíneos, pupilas dilatadas, aumento da temperatura, da freqüência cardíaca e da pressão arterial. Grandes quantidades (várias centenas de miligramas ou mais) intensificam o efeito do crack para o usuário, mas também pode levar a um comportamento bizarro, errático, e violento. Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos musculares, paranóia ou, com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida com a reação do uso das anfetaminas. Alguns usuários de crack relataram sentimentos de agitação, irritabilidade e ansiedade. Em casos raros, morte súbita pode ocorrer no primeiro uso do crack ou de forma inesperada depois. As mortes relacionadas ao crack são muitas vezes resultado de parada cardíaca ou convulsões seguida de parada respiratória. Uma tolerância considerável ao uso do crack pode se desenvolver, com muitos viciados relatando que eles procuram, mas não conseguem atingir tanto prazer como fizeram da sua primeira experiência. Alguns usuários aumentam a frequência das doses para intensificar e prolongar os efeitos eufóricos. Embora a tolerância à altas doses possa ocorrer, os usuários poderão também tornar-se mais sensíveis (sensibilização) para efeitos anestésicos e convulsivante do crack, sem aumentar a dose tomada:. Aumento de sensibilidade pode explicar algumas mortes que ocorrem após doses aparentemente baixas de crack.[4]O crack eleva a temperatura do corpo, podendo causar no dependente um acidente vascular cerebral. A droga também causa destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo (rabdomiólise), o que dá aquela aparência característica (esquelética) ao indivíduo: ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas aparentes. O crack inibe a fome, de maneira que os usuários só se alimentam quando não estão sob seu efeito narcótico. Outro efeito da droga é o excesso de horas sem dormir, e tudo isso pode deixar o dependente facilmente doente.
O livro 'Overdose, do pesquisador paraibano Jair Cesar de Miranda Coelho, membro do Conselho Estadual de Entorpecentes da Paraíba (CONEN-PB), faz uma análise comparativa entre o consumo de crack na década de noventa e qual o perfil do consumidor e usuário de crack no Brasil atualmente.
A maioria das pessoas que consome bebidas alcoólicas não se torna alcoólatra[carece de fontes]. Isso também é válido para outras drogas. No caso do crack, com apenas três ou quatro doses, às vezes até na primeira, o usuário se torna completamente viciado[carece de fontes]. Normalmente o dependente, após algum tempo de uso da droga, continua a consumi-la apenas para fugir do desconforto da síndrome de abstinência — depressão, ansiedade e agressividade —, comum a outras drogas estimulantes.
Após o uso, a pessoa apresenta quadros de extrema violência, agressividade que se manifesta a princípio contra a própria família, desestruturando-a em todos os aspectos, e depois, por consequência, volta-se contra a sociedade em geral, com visível aumento do número de crimes relacionados ao vício em referência[1].
O consumo de crack fumado através de latas de alumínio como cachimbo, uma vez que a ingestão de alumínio está associada a dano neurológico, tem levado a estudos em busca de evidências do aumento do alumínio sérico em usuários de crack.[5]e sim
[editar] Associação à prática de crimes e promiscuidade
O uso do crack — e sua potente dependência psíquica — frequentemente leva o usuário que não tem capacidade monetária para bancar o custo do vício à prática de delitos e para obter a droga. Os pequenos furtos de dinheiro e de objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em casa. Muitos dependentes acabam vendendo tudo o que têm a disposição, ficando somente com a roupa do corpo. Em alguns casos, podem se prostituir para sustentar o vício. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de trabalho ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não medindo esforços para consegui-la. Tais "sintomas" foram mostrados pelo programa Profissão Reporter, que foi ao ar pela TV Globo, no dia 16/11/2010. O crack pode causar doenças reumáticas, podendo levar o indivíduo a morte.Embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o uso do crack acaba sendo mais dispendioso: o efeito da pedra de crack é mais intenso, mas passa mais depressa, o que leva ao uso compulsivo de várias pedras por dia.
O pesquisador Luis Flávio Sapori, do Instituto Minas pela Paz, que realizou a mais aprofundada pesquisa sobre o assunto, financiada pelo CNPq, aponta que o crack é sem dúvida um fator de risco para a violência urbana. Segundo Sapori não há uma política nacional de saúde pública para acolher o dependente químico que queira se tratar. Ao mesmo tempo não há mecanismos para aqueles que necessitariam de uma internação involuntária.[6]
[editar] Chances de recuperação
As chances de recuperação dessa doença, que muitos especialistas[carece de fontes] chamam de "doença adquirida" (lembrando que a adição não tem cura[carece de fontes]), são das mais baixas que se conhece dentre todas as droga-dependências. A submissão voluntária ao tratamento por parte do dependente é difícil, haja vista que a "fissura", isto é, a vontade de voltar a usar a droga, é grande demais. Além disso, a maioria das famílias de usuários não tem condições de custear tratamentos em clínicas particulares ou de conseguir vagas em clínicas terapêuticas assistenciais, que nem sempre são idôneas[2]. É comum o dependente iniciar, mas abandonar o tratamento[3].A imprensa também tem mostrado as dificuldades sofridas por parentes de viciados em crack para tratá-los.[4] Casos extremos, de famílias que não conseguem ajuda no sistema publico de saúde, são cada vez mais comuns [5].
A melhor forma de tratamento desses pacientes ainda parece ser objeto de discussão entre especialistas, mas muitos psiquiatras e autoridades posicionam-se a favor da internação compulsória em casos graves e emergenciais, cobrando previsão legal e aumento de vagas em clínicas públicas que oferecem esse tipo de internação[6]. Poucas cidades brasileiras possuem o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e drogas (Caps AD). Essa modalidade de CAPS possui atendimento ambulatorial e hospital-dia com equipes interdisciplinares cuja a função é criar uma rede de atenção aos usuários de álcool e outras drogas.[7][8]
A recuperação não é impossível, mas depende de muitos fatores, como o apoio familiar, da comunidade e a persistência da pessoa (vontade de mudar). Além disso, quanto antes procurada a ajuda, mais provável o sucesso no tratamento. Segundo o médico psiquiatra Marcelo Ribeiro de Araújo, "Faz-se necessário a constituição de equipe interdisciplinar experiente e capacitada, capaz de lhes oferecer um atendimento intensivo e adequado às particularidades de cada um deles, contemplando suas reais necessidades de cuidados médicos gerais, de apoio psicológico e familiar, bem como de reinserção social."[9]
Seis vezes mais potente que a cocaína[carece de fontes], o crack tem ação devastadora provocando lesões cerebrais irreversíveis[carece de fontes] e aumentando os riscos de um derrame cerebral ou de um infarto.
Diferentemente do que se poderia imaginar, porém, não são as complicações de saúde pelo uso crônico da droga, mas sim os homicídios, que constituem a primeira causa de morte entre os usuários, resultantes de brigas em geral, ações policiais e punições de traficantes pelo não-pagamento de dívidas contraídas nesse comércio. Outra causa importante são as doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV por exemplo, por conta do comportamento promíscuo que a droga gera. O modo de vida do usuário, enfim, o expõe à vitimização, muitas vezes e infelizmente levando-o a um fim trágico.
Estudos indicam que a porcentagem de usuários de crack que são vítimas de homicídio é significativamente elevada:[10] O pesquisador Marcelo Ribeiro de Araújo acompanhou 131 dependentes de crack internados em clínicas de reabilitação e concluiu que usuários de crack correm risco de morte oito vezes maior que a população em geral. Cerca de 18,5% dos pacientes morreram após cinco anos. Destes, cerca de 60% morreram assassinados, 10% morreram de overdose e 30% em decorrência de AIDS.
[editar] Disseminação do vício
Cracolândia, ponto de consumo de crack em São Paulo
Outras drogas, sobretudo a cocaína, funcionam, via de regra, como porta de entrada para o crack[carece de fontes] a que o usuário recorre por falta de dinheiro, para sentir efeitos mais fortes, ou ainda por curiosidade. Assim, na degenerescência do vício, o crack aparece como o degrau mais baixo (o "fundo do poço").
O efeito social do uso do crack é o mais deletério e, nesse sentido, o seu surgimento pode ser considerado um divisor de águas no submundo das drogas. As pedras começaram a ser usadas no ano de 1990 na periferia de São Paulo e, segundo se diz, de início as próprias quadrilhas de traficantes do Rio de Janeiro não permitiam a sua entrada, pois os bandidos temiam que o crack destruísse rapidamente sua fonte de renda: os consumidores.
Entretanto, em menos de dois anos a droga alastrou-se por todo o Brasil. Recentes reportagens demonstram que o entorpecente tornou-se o mais comercializado nas favelas cariocas multiplicando os lucros dos traficantes[7].
Atualmente, pode-se dizer que há uma verdadeira "epidemia" de consumo do crack no País, atingindo cidades grandes, médias e pequenas. Efetivamente, é o que aponta recente pesquisa da Confederação Nacional de Municípios, amplamente divulgada, segundo a qual o crack é consumido em 98% das cidades brasileiras.[11]
Alguns consumidores, em especial do sexo feminino, na prostituição de baixo nível, visando somar recursos para manter o próprio vício, utilizam-se da introdução de pequenas porções de crack em cigarros de maconha, no que é chamado de "desirée", "craconha" ou "criptonita", na gíria do meio consumidor e traficante de crack[12]. Esta prática também é utilizada por traficantes, que adicionam uma pequena quantidade de crack à maconha e vendem aos usuários, sem que estes saibam. É uma tática cruel para obter novos viciados.[13][5]
[editar] Questões econômicas
Embora gere menos renda para o traficante por peso de cocaína produzida, o crack, sendo mais viciante, garante um mercado cativo de consumo.A pressão sobre o tráfico de cocaína (de menor volume e maior valor agregado) para os países ricos, tem deslocado o tráfico para o mercado de crack, passível de ser facilmente colocado para populações de baixa renda.[14]
[editar] Ver também
Referências
- ↑ Prevenção de droga na escola: uma abordagem psicodramática
- ↑ G1. "Absorção do crack é maior do que a de drogas injetáveis". . (página da notícia visitada em 28/10/2009)
- ↑ http://en.wikipedia.org/wiki/Crack_cocaine (em inglês)
- ↑ http://en.wikipedia.org/wiki/Crack_cocaine (em Inglês)
- ↑ a b Flavio Pechansky et al; Usuárias brasileiras de crack apresentam níveis séricos elevados de alumínio; Rev. Bras. Psiquiatr. vol.29 no.1 São Paulo Mar. 2007 Epub Feb 28, 2007; doi: 10.1590/S1516-44462006005000034
- ↑ http://www.comunidadesegura.org/pt-br/MATERIA-Crack-fator-de-risco-para-a-violencia-urbana
- ↑ http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,pesquisa-98-das-cidades-brasileiras-tem-problemas-ligados-ao-crack,653165,0.htm
- ↑ Prevenção ao uso indevido de drogas : Capacitação para Conselheiros e Lideranças Comunitárias. - 3.ed.- Brasília: Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, 2010
- ↑ http://www.abead.com.br/entrevistas/exibEntrevista/?cod=32
- ↑ "Alta mortalidade entre jovens usuários de crack no Brasil". . (página da notícia visitada em 26/11/2009)
- ↑ http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,pesquisa-98-das-cidades-brasileiras-tem-problemas-ligados-ao-crack,653165,0.htm
- ↑ http://betobertagna.com/2010/07/12/desiree-craconha-ou-criptonita-para-os-traficantes-a-imaginacao-e-infinita/
- ↑ http://www.comunidadesegura.org/pt-br/node/45116
- ↑ Gustavo Leal de Albuquerque; O crack em Pernambuco ; ABIN - Agência Brasileira de Inteligência - www.abin.gov.br
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