"Tô aqui pensando como tudo começou... isso sim, se conseguisse pensar. Sequelada, com dente quebrado e triste. Muito triste. No CAPS de novo. O que é CAPS? Centro de atenção psicossocial. Mas eu comecei só com um baseado? Achava legal, me esforçava para fumar, aí o barato! Que barato! Fumava e ficava viajando. Viajando em que mesmo? Nas aulas que estava perdendo, no mico que estava pagando. E a fome? Comia, comia, comia. Depois dormia. Não aguentava fazer nada, mas ninguém percebia. Maconha era legal, não tinha problema, era a cultura herdada dos anos 70. Até quando conheci a cocaína; nossa que delícia! Uma sensação de poder, de imaginação, de criatividade e junto sempre o álcool, era ótimo. Geração young, dancing days, e que se foda o mundo. Que se foda nós. Então engravidei da minha primeira filha aos 18 anos, prestes a fazer vestibular, e vocês acham que parei? Não, eu não parei. Fumava e cheirava menos, claro, mas usava assim mesmo. Depois a depressão. Nessa época comecei a saber e sentir o que era a depressão após cheirar. Horrivel. Aí vieram meus pais e me levaram para a casa deles. Eles me amavam da forma deles e sempre me julgando. Me julgavam o tempo todo e até hoje. ´Você tá muito isso.´ `Você não faz nada.` Autopiedade é a pior história do adicto, mas preciso me livrar dessa autopiedade. Tô vulnerável, triste, mas não autopiedade. Então comecei a estudar em Viçosa, na UFV; então foi quando mais fumei maconha na minha vida e conheci o que seria minha salvação e minha desgraça. Sempre coloquei minha vida nas mão dos outros. O Luciano, meu Lu, meu amor. Pai dos meus filho e que me levou a vários lugares bonitos. Viajamos muito, bebemos o melhor whisky, fizemos a melhor transa, tivemos os melhores filhos. Então ele morreu com dois tiros na cabeça e eu fiquei sozinha. Não conheço ainda esse Deus que me falam, ou ao menos não tô me lembrando agora, mas me falaram para eu me apegar a ele; fui a igrejas, vou ao centro kardecista, mas onde parece que o céu está mais próximo de mim é quando estou dormindo. Eu gostaria de ver Lu e viver nossa história de novo. Você me tirou da minha realidade e eu não consigo voltar para ela. Não sei criar meu filhos, estou com a sua idade quando te conheci. Sem perspectiva de emprego, me drogando, me prostituindo. Hoje o que posso fazer quando sair daqui é ir orar na casa de uma amiga que me chamou para orar com ela. Ela conseguiu ver e crer no Espírito Santo de Deus e eu vou lá. Ver se consigo ver e crer nesse Deus que pode me levar para caminhos que ainda não conheço e que podem ser que eu goste, que me sinta bem, em PAZ. O que eu quero é PAZ, tranquilidade, AMOR, FRATERNIDADE, IRMANDADE, LUZ!!"
Júlia
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