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Medicina e Saúde - Sobre o Café

O Brasil, como maior produtor de café do mundo, está encabeçando várias pesquisas sobre os benefícios do consumo da bebida. No começo do ano a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) lançou o núcleo de estudo 'Café e Saúde' e no mês passado promoveu um simpósio internacional para debater as últimas descobertas, ao mesmo tempo que lançou a revista 'O Café e a Saúde Humana'.
Uma das principais metas é comprovar os dados sugeridos por estudos epidemiológicos de que o consumo regular de café, até no máximo meio litro por dia (ou 500 mg de cafeína), é benéfico para o humor e, por isso, pode prevenir depressão. Algumas pesquisas usadas como base são as feitas pelo norte-americano Arthur Klatsky, que constatou, em 1993 e 2001, menos casos de cirrose e suicídio entre consumidores regulares de café. Outro levantamento, feito em 1996 com 86 mil mulheres pela Universidade Harvard, nos EUA, apontou uma relação inversa entre consumo de café e risco de suicídio.
De acordo com Darcy Lima, professor de farmacologia na UFRJ e uma das maiores autoridades sobre café e saúde no Brasil, esses dados não são conclusivos, mas sugerem uma ação da bebida no sistema nervoso central, modulando o estado de humor da pessoa. Essa característica seria provocada por uma substância descoberta recentemente no café e que parece estar ligada aos maiores benefícios atribuídos à bebida: os ácidos clorogênicos.
Acredita-se que esse composto pode ajudar a prevenir a depressão, uma vez que ele tem ação direta sobre o sistema de gratificação (felicidade) do cérebro. Quando desregulado, esse sistema pode levar a depressão, alcoolismo e consumo de drogas. Quem está triste, por exemplo, tem menor produção de endorfina (substância como a morfina e que está ligada ao prazer). Na falta deste opióide, ficam sobrando no cérebro os seus receptores, que 'pedem' pela substância. Isso pode levar ao vício por drogas, que compensam o sistema.
Os ácidos clorogênicos bloqueiam a ação desses receptores em excesso, 'fechando' a vontade de se gratificar, explica Lima, que estuda a ação da substância no Instituto dos Estudos do Café na Universidade Vanderbilt, nos EUA. Segundo ele, remédios usados contra alcoolismo, como o naltrexona, atuam desse modo, o que leva a supor que o café pode funcionar preventivamente nesse sentido.
A perspectiva é tão boa que o laboratório brasileiro Biosintética está iniciando os estudos para a criação de um remédio fitoterápico à base da fruta. Os pesquisadores estão trabalhando com um extrato composto por 8% de cafeína e 32% de ácidos clorogênicos (o café, de um modo geral, tem a proporção de 1% para 4%, dependendo da torra) e estão em fase de teste com animais. 'Se for confirmada a ação no sistema de gratificação, o medicamento poderá agir não só como antidepressivo, mas também no tratamento da síndrome de abstinência', afirma o diretor médico-científico do laboratório, Marcio Falci.
Outro grupo que está interessado nos possíveis efeitos do café para o controle da depressão são os cardiologistas. O médico brasileiro Mario Maranhão, ex-presidente da WHF (Federação Internacional de Cardiologia, na sigla em inglês), em parceria com Darcy Lima, está planejando um estudo para averiguar se essa atuação da bebida pode ter impacto sobre doenças cardíacas, principalmente enfarte. Maranhão defende a investigação com base em um outro projeto feito pela WHF e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). 'Devemos finalizar até meados de 2004 um estudo sobre a relação entre depressão e enfarte, mas já sabemos que ela é um fator de risco. Se o café pode prevenir isso então pode ser que diminua o risco ao coração.'
Mas essa vantagem pode se transformar em dano quando a intenção é ficar acordado durante a noite para estudar ou trabalhar. 'O café é uma bebida diurna. Tomá-la à noite com esse intuito pode prejudicar a atenção e a concentração no dia seguinte. E a consolidação da memória ocorre justamente durante o sono.'
Entretanto, por mais benefícios que a cafeína possa trazer, tudo em excesso faz mal. Em quantidade superior aos 500 mg recomendados por dia (mais de quatro xícaras grandes) ela pode causar arritmia, ansiedade, estresse, insônia, dor de cabeça, irritabilidade, tremores e diarréia. Quem sofre de estresse, problemas psiquiátricos, gástricos ou cardíacos deve ter cautela, assim como pessoas com osteoporose e gestantes. A cafeína aumenta a eliminação de cálcio e, em altas doses, pode levar a abortos. Mas para causar a morte de um homem adulto, seriam necessárias de cinco a dez gramas de cafeína (cerca de 50 a 100 xícaras), algo que ninguém agüentaria tomar.
'O que queremos demonstrar é que em longo prazo o consumo de café é um hábito saudável que deve ser seguido. Não é remédio ou cura para todas as doenças, mas pode prevenir problemas futuros', afirma Lima.

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